Empossada na última semana, Soraya Smaili é a primeira reitora mulher da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Também é inédito na Unifesp que a reitoria seja comandada por um docente de outra faculdade que não a Medicina.
Em entrevista publicada no último domingo (10) no Jornal Folha de São Paulo, Soraya, que é a professora do departamento de Farmacologia, critica a falta de planejamento por parte do Governo Federal na expansão das Instituições Federais de Ensino (IFE) e cita exemplos da Unifesp. “Não houve o planejamento suficiente para propiciar uma expansão ordenada do sistema”, disse, apontando que não era necessário que os novos campi da Unifesp enfrentassem os problemas que enfrentam.
Em entrevista concedida à repórter Laura Capriglione, a reitoria da Unifesp citou como exemplos a situação do campus de Diadema, na Grande São Paulo, Complexo Didático construído para abrigar as salas de aulas, que fica em um local ermo, onde “a água acaba, não tem lanchonete, não tem estrutura de alimentação, não tem acessibilidade para cadeirantes”.
“A parte de pesquisa foi instalada ao lado de uma fábrica pertencente ao governo federal. Lá, um terço dos professores tem suas salas. Mas dois terços não têm nem sequer onde sentar. Não têm onde fazer o trabalho intelectual ou atender seus alunos”, conta a reitora.
Soraya denuncia também problemas nos Campi de Osasco e em Santos, onde a União doou um terreno para a construção do Instituto do Mar, que deve abrigar cursos voltados à engenharia de petróleo, de portos, oceanografia e pesca, com foco na exploração do pré-sal. “Vários desses cursos já começaram a funcionar, em um prédio alugado, inclusive com a contratação de professores. A preocupação é que se repita a situação já verificada, ou seja, que a infraestrutura chegue muito atrasada”, comenta.
Outra crítica quanto à falta de planejamento na expansão da Unifesp está na carência de técnicos-administrativos e docentes para atender à demanda gerada pelo aumento no número de cursos e, consequentemente, de estudantes. “Apesar de a Unifesp ter 4.000 funcionários, a maioria está alocada no hospital universitário, o Hospital São Paulo, que precisa mesmo de um grande número de servidores, já que é o segundo maior hospital público de São Paulo. Nos novos campi, entretanto, faltam funcionários. Para se ter uma ideia, há quase 2.000 estudantes no campus de Diadema e só 80 funcionários. Nem as secretarias acadêmicas estão conseguindo mais atender. É dramático”, conta Soraya.
A reitora da Unifesp aponta falhas também na estrutura dos campi e no programa de permanência dos estudantes na universidade. Ela cita como exemplo o campus de Guarulhos, que abriga os cursos da área de Humanas da Unifesp e concentra estudantes de baixa renda, e que chegou a ter evasão de mais de 60% em alguns cursos.
“É falta de moradia estudantil, falta de restaurante, falta de planejamento necessário à expansão ordenada do sistema. O vestibular nacional foi uma grande conquista e democratizou o acesso. Mas agora temos de democratizar a permanência. Precisamos ter a capacidade de receber o estudante do Pará, ou do Rio Grande do Norte, ou da periferia de São Paulo, e possibilitar que ele permaneça conosco”, explica à Folha de S. Paulo.
Na entrevista, a reitora declara que não é contra a expansão, desde que esta se dê de forma planejada e corresponda às necessidades da sociedade local. “Em todo o país, há vários cursos que foram abertos sem corresponder à demanda da sociedade. A reitora de Rondônia citou um curso de lá que teve duas pessoas interessadas. Você abrir cem vagas e depois constatar que não existe demanda? É um desperdício de recursos públicos”, completa.
*Com informações da Folha de S. Paulo
Fonte: ANDES-SN